sexta-feira, 23 de julho de 2010

PEARL JAM - São Paulo - SP, 03 e 04 de Novembro, 2005.

Estava ouvindo Pearl Jam e me lembrei do show de 2005; fui nas duas apresentações em Sampa. Queria escrever algo a respeito na época, me lembro que guardei uma resenha muito boa de Eduardo Viveiros.
Ela estava em meu outro blog no site Multiply e decidi desenterrá-la:



Sábado, três de novembro, 9:20 da noite. Cronometradíssimas duas horas depois de pisar no palco do Pacaembu, um emocionado e bêbado Eddie Vedder joga seu coração para a platéia, sorrindo. Ele acabou de cantar “Alive”, fazendo coro com 40 mil fãs, e emenda agora com uma cover de “Rockin' in the free world”, canção do seu padrinho espiritual Neil Young.
Foi o quarto ou quinto momento catártico de um show perfeito, último capítulo feliz da velha novela Pearl Jam ao vivo em São Paulo. 

A história da passagem da banda pelo país é como uma daquelas pentelhas soap operas estadunidenses, que duram décadas e nunca saem do ar. Foram 15 anos, desde o estouro com o álbum Ten, enfrentando altos e baixos comerciais e criativos, trocas de integrantes e polêmicas políticas e com corporações bilheteiras. 
Nesse tempo todo, o núcleo tropical da novela amargou promessas quase anuais de turnês brasileiras, incluindo dois meses de tensão, acompanhando a briga entre os mocinhos flanelados e a “conspiração” formada pela prefeitura e os vizinhos do estádio, “vilões” do enredo, que ameaçaram a realização dos shows em troca de boas horas de sono. 

O ritual grunge começou com o dia ainda claro, na preciosa apresentação do Mudhoney. Mark Arm, mais comportado do que sua última passagem pelo país ao lado do MC5, emendou “When tomorrow hits” e “In ‘n' out of grace”, sucessos de carreira, a músicas novas. 
A abertura não durou mais de vinte minutos, e a platéia nem se abalou pela presença da banda. Estava mais preocupada em gritar clamando por cerveja (a venda foi proibida por falta de documentos) e xingando o prefeito José Serra. 


O cenário mudou quando Eddie Vedder pisou no palco, carregando seu garrafão de vinho e cumprimentando a multidão em um português digno de um Papa. Era o começo do culto pearljamico, com seus milhares de fiéis hipnotizados. “Finalmente estamos no Brasil, obrigado por esperar”, ele diz. E emenda: “nos perguntamos porque não viemos antes. Que porra estávamos pensando?”. A platéia grita, Vedder grita, a felicidade sobre o palco pelo menos parece ser genuína. 
A comparação com uma missa, aqui, não é gratuita. O Pearl Jam, com seus 15 anos de carreira, é daquelas bandas que podem levar um show de horas sem esgotar os hits. Podem deixar uma boa parte de sucessos radiofônicos de fora e ninguém vai reclamar. 

Eles têm consciência disso, e não se obrigam a nada. Pelo contrário, fazem questão de definir um setlist novo a cada apresentação. Em Curitiba, o show foi mais pesado do que em Porto Alegre. Em São Paulo, a quantidade de hits no show de sexta-feira foi maior do que no de sábado, pródigo de lados B. 
Mesmo assim, a banda cuspiu uma seqüência dos seus sucessos logo na primeira parte: “Breakerfall” abriu o show, dando passagem a “Animal”, “Corduroy”, “Given to fly”, “Even flow” (uma jam de quase oito minutos), “I am mine” e “Jeremy”, quando Vedder exigiu a ajuda da platéia para cantar – como se precisasse pedir. No final, repetiram a homenagem que vinham fazendo aos Ramones, com a cover de “I believe in miracles”, seguida da quase-irmã “Do the evolution”, antes de sair do palco.
Já teria sido uma apresentação irretocável, mesmo que Vedder não tivesse voltado para cantar “You've got to hide your love away”, dos Beatles, interrompida no finalzinho porque o suporte da sua gaita teimava em não ficar no lugar. Mesmo que eles não tivessem tocado “Black” logo depois, mesmo que Mark Arm não tivesse cantado “Kick out the jams”, clássico do MC5, ao lado da banda, antes do segundo intervalo.

A essa hora os fiéis já estavam em estado de graça, a banda já estava bêbada, a redenção já estava feita. Era hora de voltar ao começo do primeiro parágrafo, com um emocionado Vedder prometendo retorno breve, agradecendo à vizinhança do estádio (“que deixou a gente tocar alto”) e destruindo dois pandeiros ao encarnar Neil Young. Ninguém precisa de mais que isso.


Foram os melhores shows da minha vida. Espero que eles voltem neste ano.

Até hoje recebo felicitações de aniversário pelo site oficial da banda. É uma mala direta automática; mas ainda assim, é legal que a minha banda favorita dos anos 90 se lembra de mim:

"Hello André L. Santana,
We at Pearl Jam Message Pit would like to wish you a Happy Birthday today!"













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