sábado, 24 de julho de 2010

CLOSER - "Perto Demais" (Mike Nichols, 2004).

O website Multiply oferecia um bom espaço para blogs, fotos e outras coisas até que interessantes. Era legal, mas ninguém que eu conheça, até mesmo no campo de jornalismo e pesquisa de blogs, jamais ouviu falar dele.
Lá, descobri uma seção abandonada do meu antigo blog - resenhas de filmes. Gosto de escrever sobre eles e quero retomar o hábito. Portanto, postarei todas que escrevi aqui - por mais amadoras que sejam -  aproveitando para inaugurar o marcador 'CINEMA' no meu blog.

Segue a primeira, postada originalmente em 24 de Março de 2005:



Ontem à noite fiquei com vontade de assistir "Perto Demais". Me dei conta que não estava muito à vontade com a idéia de ir ao cinema sozinho mais uma vez.


O que fazer quando se sente sozinho? VÁ PARA O ORKUT.

Dentre as minhas amizades virtuais, lá estava alguém que havia me adicionado só porque eu havia achado a mesma atraente e "gente fina"; Um teaser foi enviado à ela (não há nada mais confortável do que cortejar ou flertar com alguém via internet, onde não há risco algum de se levar um fora e se sentir humilhado publicamente) - detalhe: Eu jamais havia conversado com a mesma pessoalmente.
Logo, me senti compelido a convidar essa pessoa para conhecê-la melhor, convidando-a para assistir um filme; daí, obtive a minha resposta: "Eu adoraria, mas o meu namorado não iria gostar da idéia".
Como eu poderia saber? Afinal, nada constava em seu perfil que ela tinha qualquer tipo de relacionamento!
Opção óbvia: para quê se resguardar em ambiente aberto, onde tantos outros do sexo oposto podem ter acesso à sua imagem e personalidade sem se preocuparem com a vista grossa (lê-se "ciúme") de seus respectivos parceiros? 

Se você leu até aqui, saiba que não estou falando de "Uma Mensagem para Você" com Tom Hanks e Meg Ryan.

FATO: As relações entre homem e mulher não mudaram muito desde quando avançamos do estágio Neanderthal para o Cró-Magnon e consequentemente, Homo Sapiens. A sexualidade é uma lei, um instinto natural primitivo que não só atinge os mamíferos, mas animais de qualquer espécie até os mais evoluídos;
Perto Demais aborda o tema. A diferença encontra-se num cenário modificado dos dias atuais, onde a verdade é tratada com pouco caso e o desejo não consegue ser encoberto de explicações racionais.

Esta é uma estória que poderia ser facilmente contada de forma teatral, pois ela não exige coadjuvantes, nem cenas desnecessárias. E o mais intrigante: Não há uma cena de sexo sequer.
Quatro pessoas - 2 casais que expressam (ou escondem) seus desejos de maneira crua e incisiva. O espectador é forçado à enxergar sua própria realidade - por mais que esteja ligado à uma pessoa emocionalmente, não há como renegar seu ambiente, onde tantos outros podem se render a um convite ou a um impulso sexual. A tênue linha entre o desejo e fidelidade: paixão sem amor; cumplicidade entre desconhecidos.

O conto se passa em Londres, mas poderia ser perfeitamente em qualquer lugar. Um Jornalista Obituário (Jude Law) que conhece uma ex-stripper (Natalie Portman); uma fotógrafa desiludida com o amor que conhece um médico dermatologista (Clive Owen) que não tem pudor algum de revelar seus instintos, jamais renegando sua verdade (exceção para a cena da conversa pela internet, onde é provado que no fundo podemos ser quem bem quisermos, sem culpa). 
Destaque para Clive Owen no papel do bom doutor que não se restringe em expressar nem um pouco suas frustrações e verdades na narrativa; É nele que nos identificamos no filme: um espécime genuíno da natureza humana nos dias de hoje.

Vá ver o filme e pense muito bem no que quer com o seu namorado ou namorada.
Ou com seu parceiro / parceira sexual.

Um comentário:

Camila Craveiro disse...

Um dos filmes de que mais gosto! E insisto em exibí-lo aos meus alunos que, obviamente, me deixam, após a aula, com a sensação de que qualquer blockbuster que eu tivesse escolhido faria muito mais sucesso. Não os culpo, até porque a primeira vez em que o assisti, deixei a sala de cinema me perguntando o que foi aquilo, que experiência tinha sido aquela.
Depois de muito analisá-lo, inclusive semioticamente, percebi o quanto incomoda olhar as relações de "perto demais", o quanto as pessoas são confusas e se deixam levar...por impulsos, por carência, pelo romantismo infantil, pela novidade. Constatar isso é ruim, estranho.
E, para mostrar como a vida é cíclica, a música de Damien Rice (linda - antes de ter sido massificada por Ana Carolina) pontua os encontros e desencontros de casais que, infelizmente, espelham tão bem as relações atuais: pessoas que se escondem sob "identidades" falsas, arroubos de romantismo juvenil que justificam o não se envolver por inteiro, estratégias ardilosas que permitem ter quem se deseja...enfim, coisas que todos vivemos, vez ou outra.
Para encerrar, nada melhor que o fechamento de "The Blower's Daughter": "I can't take my mind off you
I can't take my mind...
My mind...my mind...
'Til I find somebody new"