sábado, 28 de junho de 2014

INTERLIGAÇÕES.




Antes mesmo de descobrir qual era minha comida favorita, eu já me dava conta do impacto que histórias tinham em minha vida. Gosto de pensar que elas ajudaram a formar a pessoa que sou hoje, me influenciando em vários aspectos. Gosto de observar o que as histórias causam nas pessoas e ouvir o que elas sentem após absorverem uma, independente de seu formato - seja por um livro, filme, uma canção, uma história em quadrinhos, um conto, um enredo de um jogo de videogame, uma canção de Johnny Cash, uma descrição de um acontecimento importante, uma lição de vida de alguém mais velho e experiente, uma piada.
Por isso, agradeço muito à Deus por ter em meu corpo duas orelhas, dois olhos e uma boca - perfeita simbologia (acho até impressionante) em nossos corpos, que ao meu ver, define como deveríamos tratar a comunicação em nossas vidas.

Principalmente a comunicação através de histórias.


Quando eu era criança, eu fui apresentado a uma ideia simples:

Ela foi plantada por meio de um desenho animado, conhecido como Caverna do Dragão. Muitos da minha geração reconhecem esta série como um dos melhores expoentes de diversão animada já criadas. Mesmo assistindo reprises, cada episódio para mim ainda é sinônimo de diversão garantida.
Para aqueles não familiarizados com o contexto, eis um pequeno resumo da história da série: um grupo de jovens contemporâneos são transportados para um mundo de fantástico medieval, onde após receberem armas dotadas de magia, precisam encontrar o caminho de volta pra casa - a "nossa" realidade. E se você nunca viu nenhum episódio dessa série, arrisco-me a dizer que sua infância está incompleta.
Num episódio, onde o personagem Erik (vulgo "Cavaleiro"), o mais crítico, impaciente, rude e intolerante do grupo é imbuído de poderes mágicos após apontar ao Mestre dos Magos que faria melhor proveito dos poderes dele se o tivesse; ironicamente, o Mestre se interessa pela "proposta" e passa a ele seus poderes, seguida de uma instrução básica sobre a magia.

O episódio em questão "O Dia do Mestre dos Magos", pode ser conferido no vídeo abaixo:




E a lição foi: De que todas as coisas no universo estão interligadas; que cada ação tem sua consequência. De que existe um equilíbrio universal.

E é essa a ideia que me refiro.
Que me foi passada por um desenho animado; não por um livro de física quântica, não numa sala de aula, não por um episódio de Cosmos (que adoraria ter assistido na época), mas por um desenho animado. E tomei essa ideia como verdade - que logo quando fixada em minha mente, deu início a um longo processo de análise e observação da minha vida e sei que até o fim desta.
Como eu disse - histórias fazem toda a diferença. E tinha apenas dez anos de idade. Nenhuma aula na escola me ensinou sobre isso; tampouco as aulas de educação católica que tinha na mesma época sanavam quaisquer dúvidas sobre o "Por quê" das coisas e o universo, pois minhas perguntas eram por demais bizarras. Cheguei até a cogitar astronomia como carreira, mas sabia que minha limitada habilidade em matemática não me levaria muito longe. Eu não entendia como a vida funcionava, porque estava mais interessado nas coisas que aconteciam fora dela. Isso me levou a ser uma criança muito aérea e um adolescente mais desatencioso ainda. Fui um aluno regular - não tinha foco nas aulas e pouca coisa do que aprendia era armazenada, salvo exceções das matérias que julgava importantes na vida adulta: redação, literatura, geografia, história, língua inglesa - "humanas" e não as "exatas". As aulas de Karatê e Kung Fu foram um bônus na minha educação durante meu crescimento. Hoje, já adulto, me orgulho em dizer que uma calculadora no meu celular resolve os meus problemas quando compro os meus quadrinhos pela Amazon; e nenhum cálculo de física cuja resolução me torturava por quase uma hora na sala de aula, não possui aplicação prática em minha vida quando estaciono o carro.

Se já gostava de meios de entretenimento que me transportavam para um outro mundo (na mente de uma criança, pode até ser um "outro universo"), a minha paixão por essas fontes a partir daquele desenho foi aumentada. Essa ideia de que todas as coisas no Universo estão conectadas, mexeu comigo. E o melhor - podendo ser definida apenas por uma palavra: magia.
Sabia que havia aprendido algo novo a partir dali, mas não conseguia dizer o quê; apenas uma mera extrapolação do que nós, seres humanos, acreditamos saber. E através da própria origem semântica da palavra "acreditar", questionava do que compunha meu consciente e até subconsciente. Se não fiquei louco no processo, foi por pouco. E se a igreja me ensinou alguma coisa nesse aspecto, foi apenas através da frase: "Eis o mistério da fé." E só após chegar na minha idade adulta pude entender como encarava tal processo. Tinha muitas perguntas, e nenhuma resposta.

O jeito seria dar continuidade no processo e crer que, além da vida que conhecia, havia algo mais.

Este "algo mais" pode ser qualquer coisa. Ideias, através da ficção - tudo que não coincida com a realidade social e material de nossas vidas, contadas através de livros, filmes, séries, desenhos animados, HQ's - são também as fontes as quais pessoas tem a sua curiosidade despertada a fim de explorarem mais o seu âmago. Eu acredito nisso. E a partir daí, questionarem sua realidade e testarem seus limites: criando, testando, desenvolvendo. Grandes cientistas já admitiram ser ávidos leitores de ficção científica. É comum entre os médicos estarem mais ligados à ficções dramáticas e romances, por seu ofício ser mais ligado ao corpo físico e menos ao corpo emocional / espiritual. Tudo pode ser a fonte para uma boa ideia, ou até mesmo para uma melhor conduta de vida, como seres sociais. Por isso a mitologia me atrai tanto - são reflexões causadas através da semelhança de histórias passadas, reais ou fantásticas. Sempre há algo que nossa mente e coração podem aprender com elas. Por esses canais, temos o acesso à criação e questionamento de uma ideia através da imaginação.

Para mim, a imaginação é o que acontece quando mente e o coração trabalham em uníssono. Algo é criado; o que advém da imaginação humana não pode deixar de estar intrinsicamente ligada à essência da pessoa que criou um conceito - uma ideia.
Esta é a melhor analogia que posso conceber sobre o quanto Deus fez o homem à sua imagem e semelhança.
(E no que tange a criação, creio que Deus possa ser uma mulher - mas isso é assunto para outro post.)

Por isso, não aprecio como o ceticismo lida com a imaginação. Porque este limita a capacidade de criar e abrir novas portas para que o status quo de um sistema seja mantido; apenas a mente é trabalhada, e não a fé. E para mim, a  é apenas a crença na verdade interior, a capacidade de ser e fazer tudo aquilo que cremos ser capazes. E isso é sinônimo de magia. Em O Caminho do Mago, excelente obra escrita por Deepak Chopra, ele postula que o 'mago' é aquele que causa transformações, não apenas em si, mas também nas outras pessoas. Entende-se como uma singela mudança de atitude interna advinda por uma lição de vida ou a moral de uma história. E isso também é magia.

Porém, a magia como elemento integral da fantasia não acontece em nossa realidade, mas em nossas mentes. Desejamos muitas vezes que o impossível se torne possível. Nós sonhamos. Daí a importância da fantasia porque ela existe nas histórias contadas através dos meios de comunicação mencionados anteriormente, além de outras mídias. E quando algumas obras despertam algum tipo de questionamento nas vertentes do racional e emocional, melhor ainda.
A nossa capacidade de criação através da extrapolação desses conceitos pode nos levar a lugares jamais imaginados. É um exercício de transcendência. Através de uma ideia, podemos chegar a novos lugares; através de uma ideia, podemos até salvar o mundo; através de uma ideia, a transformação pode ser alcançada.


'Alcance'.
Uma das várias palavras que podem definir a obra cinematográfica que mais admiro: 2001 - Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odissey - 1968), de Stanley Kubrick. Um filme à frente de seu tempo que coloca o espectador numa experiência visual cinematográfica, e que oferece uma gama de questionamentos não inerente à sua história, mas aos conceitos apresentados pela mesma. Um vislumbre do "infinito e além".



Kubrick nos mostra o que acontece com a mente humana quando esticada até a metade da área de nosso próprio sistema solar; o resultado, é um grande ponto de interrogação na mente do espectador que não passa incólume à experiência. Verdade ou ficção, 2001 prova conscientemente que o ser humano não faz ideia do além que o cerca e sobre o quanto estamos despreparados para o mesmo. De que nossas criações e atitudes são falhas, assim como nos enxergamos falhos e ao mesmo tempo únicos se vistos pelos olhos de Deus.
Diversos filmes de ficção mostram a realidade do quanto a raça humana é um desastre em exploração espacial e como lidaríamos com a vida extraterrestre; mas gosto de pensar que o cerne da maioria desses filmes também serve como um aviso caso em algum ponto de nossa existência isso possa vir a acontecer. Considero 2001 como o primeiro filme de ficção que nos mostra o quanto devemos ser delicados e estarmos com nossas mentes abertas na mesma situação - é uma história isenta de respostas, de presenças físicas do que pensamos ser a vida extraterrestre e suas intenções, oferecendo uma oportunidade de trazer à tona nossas dúvidas e ânsias.

Duas delas é saber se há vida em outros planetas e se sim, se faremos Contato (Contact, 1997) - filme dirigido por Robert Zemeckis e baseada na obra de Carl Sagan. Outro excelente exemplo que acompanha uma astrônoma desprovida de crença ou fé religiosa tem a oportunidade de provar a existência de vida alienígena por um sinal advindo do espaço. A personagem, ainda cética, é movida pela fé em sua busca da verdade - de que em nosso Universo, não estamos sozinhos.



Ao mesmo tempo, o filme mostra um sutil  ponto de vista sobre o quanto estamos nos subdesenvolvendo como raça - uma economia caótica, guerras divisões territoriais, guerras, desigualdade por religião e crenças patrióticas num planeta carente de respostas, cheio de pessoas que desaprenderam a fazer perguntas. Verdades íntimas sobre fé e propósito são mostradas e que podem ser aplicadas a qualquer pessoa; é um filme que convida o espectador a participar dos questionamentos mas assim como 2001, o instiga a examinar sua noção e limite daquilo que conhece sobre Deus e o Universo - e se são lados da mesma moeda. Eu não apenas admiro o filme Contato, eu acredito nele.
Vale a pena lembrar que Zemeckis é o mesmo diretor da trilogia De Volta para O Futuro (Back to The Future - 1985, 89, 90) - outra obra que através do personagem Dr. Emmet Brown, criador da máquina do tempo, expõe sua curiosidade à grande dúvida de nossa existência no Universo: "Por quê?" - uma outra ideia que também me marcou pra sempre.

Às vezes, este questionamento ocorre num espaço bem menor, mas com uma gama mais infinita: nossa mente. E há histórias sobre isso. O melhor exemplo que posso dar não é a trilogia Matrix, mas outro também que apresenta mais perguntas e um ponto sobre a única linguagem universal conhecida: a matemática.


Em seu filme de estréia, Pi (π, 1998) o diretor e roteirista Darren Aronofsky conta a história de Max Cohen, um gênio da matemática que busca um padrão, uma 'ordem no caos', numérico representado pela bolsa de valores. E por seu estudo constante, ele chega a um outro campo a ser explorado: o número pi. Como consequência, outras verdades lhe são reveladas - inclusive sobre religião. Um filme que narra uma conturbada viagem na essência de um homem cuja única devoção se encontra na matemática. E quando  ele encontra a Cabala. Pi ilustra o choque da mente humana quando deparada com a possível interligação de conceitos que, originalmente, jamais deveriam se misturar: a matemática e religião. Imagine descobrir que, para entender mais do Universo, a fé deve estar conectada ao conhecimento científico. E neste processo, Max encontra mais do que esperava em sua busca: a si mesmo.

Aronofsky realizou outra obra impressionante que aborda duas das maiores ânsias da humanidade: o medo de morrer e o desejo de se viver pra sempre. Em A Fonte da Vida (The Fountain, 2006) a força que move o personagem principal em sua busca, é o amor. E a sua busca, é a "cura" para a morte - numa jornada que perdura mil anos.



Ciência, reencarnação, a ideia da vida eterna; conceitos que exigem uma reflexão mais profunda em nossas vidas. Não é um filme que oferece respostas ou de fácil compreensão. Mas é outro belíssimo estudo visual para refletir sobre esses conceitos.


Os filmes de Darren Aronofsky me fazem refletir sobre como as transformações internas, se conectadas a uma ideia no ambiente externo causam uma diferença no que somos por inteiro.
Fonte da Vida é uma história com camadas tão profundas que até ganhou uma versão estendida em toda sua magnitude e livre de limitações visuais numa versão para quadrinhos - ou Graphic Novel; diferentes percepções de uma mesma história - interligadas:



É uma experiência incrível poder analisar uma obra através de duas mídias visuais; apesar do enredo da história ser o mesmo, ambas plataformas podem contá-la de maneiras distintas. O que dá ao espectador / leitor mais de uma opção para a absorção da obra. Aronofsky fez o mesmo aconteceu com o seu mais novo filme - Noé (Noah - 2014).
Outro bom exemplo é Akira, - escrita e desenhada para os quadrinhos japoneses (Mangá) por Katsuhiro Otomo e depois adaptada para um longa metragem de animação, dirigido pelo próprio Otomo. Por seu conteúdo e estilo narrativo, é uma obra universal e merece ser conferida. Até mesmo 2001 foi adaptada para os quadrinhos em 1976, pelo lendário e mais importante criador da história dos quadrinhos, Jack Kirby:


Nas HQ's, não há limites para se contar uma história. E ainda me impressiono por me saber que muitos daqueles que se julgam apreciadores de literatura, fotografia e/ou pinturas, não se dão a chance de ler uma história em quadrinhos, que é basicamente, literatura e arte visual fundidos em uma só mídia. Não sei se por correlacionarem o termo "gibi" a algo infantil, ou por se levarem muito a sério quando se tornaram "adultos". Vai entender.
Os quadrinhos me influenciaram em diversos campos da minha vida: em meu gosto para literatura, sobre o enquadramento de câmera para fotografia e filmes, na velocidade e desenvolvimento de uma narrativa e até mesmo em meu próprio estilo de escrita.

Mas não é só de ficção que as histórias em quadrinhos são feitas; a magia também está lá.
Portanto, faço um convite de leitura: Livros de Magia (Books of Magic) - minisérie já encadernada e lançada pela editora Panini no Brasil -, escrita por Neil Gaiman e magistralmente ilustrada por John Bolton, Charles Vess, Scott Hampton e Paul Johnson.


Publicado originalmente em 1989, este "gibi" conta a história de Timothy Hunter - um menino na entrada de sua adolescência com o potencial de se tornar o mago mais poderoso do planeta. Tim usa óculos, é introvertido e não acredita em magia. Até que um dia, a magia entra em sua vida. As inevitáveis comparações com o personagem Harry Potter, escrita por J.K. Rowling (o primeiro livro escrito em 1997) terminam aí; Gaiman, com seu estilo único, conduz a obra com sutileza e maestria em momentos de impacto, descrição, humor e até horror. A arte é espetacular. Não é uma história pra crianças. Mas como leitores, nos tornamos Timothy em sua jornada. Porque talvez seja essa a nossa percepção da magia - limitada a truques de ilusão e coisas que desaparecem e ressurgem de um lado para outro num palco - quando descobrimos como elas funcionam ao adquirirmos uma maior noção da "verdade", ao chegarmos na adolescência.
Livros de Magia apresenta a possibilidade da existência de um outro lado da verdade. E é aí que se encontra o requinte da história: todos os conceitos religiosos, mitológicos e lendas que de algum maneira chegaram aos nossos ouvidos e consciente, são apresentados por seu valor intrínseco à magia: céu e inferno; a história do mundo e as antigas civilizações cuja herança cultural são presentes em nosso consciente coletivo; o nosso potencial para transformações; a força da natureza; a importância e origem de nossos nomes; a simbologia de um amuleto ou desenho; poesia. E o mais importante: a maneira como enxergamos e aceitamos nossas vidas - por escolhas.

Eu era um adolescente no auge dos meus dezesseis anos sendo apresentado a estes conceitos ao ler esta obra pela primeira vez. E não tinha ninguém para conversar sobre isso. A internet não existia e não era na biblioteca do meu colégio que acharia livros sobre Atlântida; Eu não sabia quem era Joseph Campbell e nem conhecia o trabalho dele; Cosmos de Carl Sagan não era achado em nenhuma locadora e não havia reprises; Guerra nas Estrelas se apresentava como "Há muito tempo atrás, numa galáxia distante" e eu me perguntava se estávamos regredindo ao invés de evoluindo já que todo aquele conceito visual era futurista. Na mesma idade, abandonei o Catolicismo, porque não encontrava ali as respostas que buscava. Já não fazia muito sentido e as missas me davam sono. E já estava de saco cheio de me sentir culpado por ter descoberto a masturbação. Eu não tinha inclinação alguma para ser padre, mas de querer contar histórias. E se no meu racional, todos os ritos Católicos me faziam sentir mais distante de minha essência, as histórias (por filmes, livros e HQ's) que absorvia me apresentavam diferentes perspectivas da sociedade que sou parte e de minha conduta nela. Sem mencionar o que eu aprendia sobre as diversas representações de Deus, o Universo e tudo mais. Reais ou não, eu acreditava nas possibilidades. Daí, a Espiritualidade me encontra e começo a acreditar nelas.

Ficções científicas, magia oriunda de nosso passado. Criações do nosso imaginário, elementos de nossa história ou até mesmo vislumbres de nosso futuro. Como cultura, mesmo imbuída na indústria de entretenimento de nossa sociedade, ela possui significância. Somos bombardeados por estes conceitos, quase como um exercício de reconhecimento do potencial de nossa imaginação. E sobre como através do estudo e conhecimento de qualquer coisa, nos conectamos a ela. E explorando as possibilidades, chegamos a diferentes interpretações ou até descobertas.
O livro Código Da Vinci escrito por Dan Brown e seu sucesso de vendas é um exemplo do quanto estamos mais propensos em descobrir novos valores de nossa história. Outro exemplo pode advir de um filme de ficção científica, que nos conecta a uma ideia que desperta interesse, Logo, precisa ser estudada, apurada com persistência para se tornar real. Como resultado prático e graças aos avanços tecnológicos, hoje nos conectamos através de um oceano de distância via Skype por meio de um iPhone. Algo que em menos de dez anos atrás, era apenas uma ideia de ficção científica.

Então deixo a pergunta: Qual é a função da fantasia ou da ficção? Seria esse também o mistério da Fé? Que elementos estão a nossa volta para que busquemos as respostas para as nossas principais perguntas? Sabemos ao menos que perguntas são essas? Temos buscas em nossas vidas, um propósito maior em nossa essência? Algo específico que nos impele para algo maior?
Tais perguntas tem o poder de apurar nossa sensibilidade e direcioná-la nas ideias que alimentam a mente e o coração ao mesmo tempo. E isso também nos torna mais abertos às probabilidades que nos instigam a querer aprender mais sobre o escopo de qualquer assunto - um processo que faz o racional ir além do que se permite. Logo, uma interligação entre o que sabemos, sentimos, pensamos e acreditamos é realizada. O que aprendemos de maneira científica pode se conectar ao que assimilamos através de algumas dessas obras.
Isso não infere que a vida seja melhor se consumirmos teorias com obras de ficções e fantasia todo o tempo; isso é alienar-se à realidade. Mas o oposto disso é ainda mais assustador: imagine passar por uma vida com nada além da crença em nossa realidade e o sistema que vivemos. De acreditar que nossa existência seja finita; e a imaginação, limitada a meros sonhos enquanto dormimos. A busca pelo equilibrio entre essas vertentes é importante, porque este equilíbrio também me ajuda a compreender que sou feito de diferentes partes: um corpo em contato com a realidade material, uma mente que analisa, um coração que sente e uma alma que busca.

Toda vez que absorvo uma obra cinematográfica, um livro, uma canção ou até mesmo uma história em quadrinhos que aborda o conceito de Deus e a existência, fico contente por ser deixado com mais perguntas do que respostas. Eis o propósito delas - nos mostrar que tudo começa de dentro: através do autoquestionamento, expandimos nossa percepção sobre como funcionamos, criando uma visão analítica de nossa realidade. Logo, sou transformado em meu íntimo por elas. Acredito que precisamos de mais perguntas - daí a importância de iconoclastas, porque a humanidade requer mais questionamentos para que coletivamente, possamos evoluir.
E são exatamente estas obras que me me estimulam à análise do quem somos, porque somos, onde estamos e para onde iremos neste plano o qual chamamos de vida.

Posso não ter ideia alguma do que é o sistema de Leasing bancário ou como o processo de desalienação de um carro numa concessonária funciona, mas sei muito bem o que move o meu coração e me faz dormir melhor a noite.

E me conforto em dizer que parte do homem que me tornei foi formada graças às histórias que absorvi. Pois elas me passaram noções de integridade que nenhum outro ser humano vivo poderia ter me ensinado. Tento evoluir em minha essência, aplicando em minha conduta os preceitos que aprendi pelas histórias. Porque essa realidade física, imperada pelo cinismo, mentira, malevolência e lenta autodestruição de nossa raça, prova-se constantemente incapaz de me ensinar como me tornar um ser humano melhor.



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