Meu blog tem suas raízes na Faculdade Cásper Líbero. Lá, me especializei em Teoria e Práticas da Comunicação, com ênfase em Jornalismo. Numa matéria intitulada Mídia e Poder, ministrada pelo professor Dimas Kunsch, a avaliação semestral consistia na construção de um blog, o qual os alunos devem postar suas conclusões referentes aos temas apresentados em sala de aula. Todos os posts relacionados, inclusive o primeiro, podem ser encontrados no no marcador ou link: Pós-Graduação.
Ocasionalmente, pessoas me perguntam sobre
o tema de minha monografia final na Pós. Para um sujeito em seus trinta e
poucos anos, falar de Histórias em Quadrinhos sob uma perspectiva acadêmica (e
até científica) causa até mais estranhamento do que interesse.
Por isso, oficializo em meu blog o campo
quadrinhos - registrando minha paixão e fascínio pela nona arte neste post.
Explicarei as razões para tanto, usando o tema de minha pesquisa, que aborda a
mitologia moderna dos super-heróis, contextualizada em nossa era pelas HQ's e
seus efeitos no consciente coletivo cultural. Além do conhecimento empírico
adquirido por anos de leitura, foram usados diferentes referenciais teóricos na
área de comunicação e mídia: textos sobre psicologia social, consumismo, marketing,
publicidade e até filosofia. Autores como Umberto Eco, Edgar Morin e Carl
Gustav Jung serviram como fontes de questionamentos. E, para um
aprofundamento no conceito 'herói', estudos mitológicos de Joseph
Campbell e Philip Wilkinson.
Para mim, as HQ's* são uma das melhores e mais originais mídias criadas - rica em estilos visuais e com possibilidades ilimitadas de narrativa. Na infância, aprimorei minha leitura e escrita pelo hábito de lê-los. Não muito tempo depois, os 'gibis' despertaram em mim uma afinidade pela fotografia, cinema e dramaturgia, pois sofrem influência destes elementos. Eles não são apenas divertidos, baratos e acessíveis - são uma expressão artística como qualquer outra, que segue a assertiva do filósofo Hans Blumemberg: "A arte não quer significar algo, deseja ser algo". Ler quadrinhos é uma experiência única.
Christopher Knowles postula que nossos atuais deuses são super-heróis. Concordo com ele. Tampouco desejo pregar o politeísmo pela indústria cultural, mas provoco o seguinte raciocínio: a realidade em que aceitamos viver é dura, brutal e difícil de ser encarada. Diariamente somos enxurrados por notícias que destacam os piores extremos do ser humano, quando motivado por forças amorais e mesquinhas. Seres da nossa própria espécie morrem todos os dias - vítimas da fome, violência, desastres naturais, guerras, corrupção e outros fatores que também ajudam a destruir o planeta. Somos uma raça instruída a viver pela autodestruição gradativa.
Anestesiados - preocupados com a sobrevivência e pequenos prazeres a tal ponto de desenvolvermos a habilidade de ignorar uma criança faminta nas ruas. Não analisamos o mundo que vivemos. Falta-nos inspiração para ter coragem e ajudar. E quando é a nossa vez de pedir ajuda, já pode ser tarde demais. Num efeito dominó, caem a fé, a confiança e vontade de ajudar o próximo.
Quando me deparei com tal verdade, refleti sobre minha educação moral, cívica e religiosa. Reavaliei meus valores (o que gosto) e tentei racionalizar minha fé (o que acredito); meditações que exigem disciplina e autoconhecimento. Uma conclusão que cheguei sobre a fé: ela pode ser um combustível para consciência se utilizado da maneira correta, e poucos acreditam que tais elementos podem se complementar.
Afinal, a consciência define nossos atos racionais. E a fé, de acordo com os céticos, consiste na crença em fantasias; uma desilusão. Para eles, o mundo funciona de maneira pragmática e racionalista. Felizmente, existem aqueles que fazem a diferença no outro lado da balança, rebuscando valores que não podem ser mensurados materialmente: bombeiros, voluntários, filantropos, cientistas, médicos, filósofos, atletas, palestrantes motivacionais, jornalistas, médiuns, freiras... suas atitudes são tomadas com base no sacrifício e doação. É de sua essência testar limites pessoais e ajudar o próximo.
Acredito que as artes (e alguns artistas) não sejam exceção: livros, filmes, canções e pinturas podem não ser eficazes contra problemas práticos, mas são frutos de pessoas que criam, expressam suas idéias sobre o mundo e fazem a diferença pelas suas opiniões, ações e obras. Elas tem imaginação. Desenvolvem cultura, sensibilidade, identidade social, causam reflexão sobre nossas capacidades - e nossa fé. Este é o efeito que as HQ's de quadrinhos de super-heróis tem em minha vida.
A mitologia das antigas civilizações fizeram o mesmo como herança cultural da humanidade: divindades da natureza, ancestrais totêmicos e principalmente os personagens dos contos greco-romanos definiram os valores morais da vida por tragédias, triunfos, conquistas e sacrifícios. Tais como as pessoas anteriormente mencionadas, alguns deles tornaram-se heróis, por superarem suas adversidades.
Os mitos representam nosso desejo interno de fazer algo contra os males que nos afligem; são a nossa resposta simbólica. Psicologicamente, eles estão presentes no cotidiano: fantasiamos em ser como eles; oramos para os santos ou espíritos protetores pedindo por ajuda. Uma atitude que nos religa com o sagrado, porque consideramos toda vida sagrada. Em consequência, repensamos nossas atitudes, chegando ao autoconhecimento. Acredito que os super-heróis instigam à mesma reflexão.
A fantasia, se bem utilizada da metáfora, funciona em nossa consciência - assim como um poema, um trecho filosófico oriental, uma fotografia, uma pintura, ou até mesmo um versículo bíblico. São parábolas que analisam a subjetividade humana; A capacidade de escolher entre o bem e o mal; Elementos resgatados pelas HQ's de super-heróis.
Na obra "Nossos Deuses São Super-heróis", Christopher Knowles ressarce uma verdade no consciente coletivo contemporâneo: "Todos os super-heróis são, basicamente, salvadores. Diferente dos salvadores religiosos, eles oferecem a salvação como um acontecimento concreto e nada ambíguo. (...) Histórias sobre suas façanhas lidam com a ansiedade real e satisfazem uma necessidade profunda" - uma das razões que os tornam tão populares, além da reinterpretação de valores mitológicos e exemplos de constituição moral, que regem nossa conduta na sociedade.
Pessoalmente, ler HQ's de super-heróis não significa fugir da realidade, mas aceitá-la à minha maneira. Embora às vezes me questiono sobre o modelo capitalista regido pelos EUA - aplicado no sistema de consumo brasileiro; afinal, os meios de entretenimento (e arte) em massa que aprecio em sua maioria são de origem externa, assim como seus produtos. Um exemplo de dominação ou influência cultural pelo corporativismo? Algo a se pensar...
Mas nem tudo é maléfico; hoje, podemos nos divertir e acrescentar informações pertinentes à alma por uma única fonte. Se há algum mérito espiritual na indústrias de entretenimento, é a capacidade de contar histórias e criar ícones com embasamento mitológico - o tema central deste post. Uma parte de nosso consciente precisa ser saciada com tais elementos, pois vivemos rotinas tranquilas, com liberdade regrada. As fantasias e instintos não tem vazão, pois a sobrevivência no sistema vem em primeiro lugar. Não vivemos numa época em que lutar para viver é a única opção. Não participamos de guerras, mas as assistimos pela TV. Porém a herança cultural persiste em nossa consciência; por isso consumimos bens imateriais (livros de ficção, filmes, jogos de videogame e é claro, HQ's). É uma forma de adoração, pois nos religamos com sua simbologia, adquirindo-os. E através deles conhecemos nossos mundos imaginários, vivemos nossas aventuras. SONHAMOS.
Daí a importância de analisar os super-heróis por essa perspectiva. Gerações passam, mas os ícones se fortalecem porque a mitologia sobrevive ao teste do tempo. As HQ's constituem a mídia responsável por nutrir estes ícones da mesma maneira, fator que a consagrou como a nona arte. Nada mal para uma revista acessível em qualquer banca de jornal.
Para aumentar a reflexão no assunto, segue abaixo um texto traduzido (e resumido) sobre como atos baseados na bondade podem aumentar a vontade e força física. O estudo foi realizado por Kurt Gray, estudante de psicologia com doutorado na Universidade de Harvard, em Cambridge:
Anestesiados - preocupados com a sobrevivência e pequenos prazeres a tal ponto de desenvolvermos a habilidade de ignorar uma criança faminta nas ruas. Não analisamos o mundo que vivemos. Falta-nos inspiração para ter coragem e ajudar. E quando é a nossa vez de pedir ajuda, já pode ser tarde demais. Num efeito dominó, caem a fé, a confiança e vontade de ajudar o próximo.
Quando me deparei com tal verdade, refleti sobre minha educação moral, cívica e religiosa. Reavaliei meus valores (o que gosto) e tentei racionalizar minha fé (o que acredito); meditações que exigem disciplina e autoconhecimento. Uma conclusão que cheguei sobre a fé: ela pode ser um combustível para consciência se utilizado da maneira correta, e poucos acreditam que tais elementos podem se complementar.
Afinal, a consciência define nossos atos racionais. E a fé, de acordo com os céticos, consiste na crença em fantasias; uma desilusão. Para eles, o mundo funciona de maneira pragmática e racionalista. Felizmente, existem aqueles que fazem a diferença no outro lado da balança, rebuscando valores que não podem ser mensurados materialmente: bombeiros, voluntários, filantropos, cientistas, médicos, filósofos, atletas, palestrantes motivacionais, jornalistas, médiuns, freiras... suas atitudes são tomadas com base no sacrifício e doação. É de sua essência testar limites pessoais e ajudar o próximo.
Acredito que as artes (e alguns artistas) não sejam exceção: livros, filmes, canções e pinturas podem não ser eficazes contra problemas práticos, mas são frutos de pessoas que criam, expressam suas idéias sobre o mundo e fazem a diferença pelas suas opiniões, ações e obras. Elas tem imaginação. Desenvolvem cultura, sensibilidade, identidade social, causam reflexão sobre nossas capacidades - e nossa fé. Este é o efeito que as HQ's de quadrinhos de super-heróis tem em minha vida.
A mitologia das antigas civilizações fizeram o mesmo como herança cultural da humanidade: divindades da natureza, ancestrais totêmicos e principalmente os personagens dos contos greco-romanos definiram os valores morais da vida por tragédias, triunfos, conquistas e sacrifícios. Tais como as pessoas anteriormente mencionadas, alguns deles tornaram-se heróis, por superarem suas adversidades.
Os mitos representam nosso desejo interno de fazer algo contra os males que nos afligem; são a nossa resposta simbólica. Psicologicamente, eles estão presentes no cotidiano: fantasiamos em ser como eles; oramos para os santos ou espíritos protetores pedindo por ajuda. Uma atitude que nos religa com o sagrado, porque consideramos toda vida sagrada. Em consequência, repensamos nossas atitudes, chegando ao autoconhecimento. Acredito que os super-heróis instigam à mesma reflexão.
A fantasia, se bem utilizada da metáfora, funciona em nossa consciência - assim como um poema, um trecho filosófico oriental, uma fotografia, uma pintura, ou até mesmo um versículo bíblico. São parábolas que analisam a subjetividade humana; A capacidade de escolher entre o bem e o mal; Elementos resgatados pelas HQ's de super-heróis.
Na obra "Nossos Deuses São Super-heróis", Christopher Knowles ressarce uma verdade no consciente coletivo contemporâneo: "Todos os super-heróis são, basicamente, salvadores. Diferente dos salvadores religiosos, eles oferecem a salvação como um acontecimento concreto e nada ambíguo. (...) Histórias sobre suas façanhas lidam com a ansiedade real e satisfazem uma necessidade profunda" - uma das razões que os tornam tão populares, além da reinterpretação de valores mitológicos e exemplos de constituição moral, que regem nossa conduta na sociedade.
Pessoalmente, ler HQ's de super-heróis não significa fugir da realidade, mas aceitá-la à minha maneira. Embora às vezes me questiono sobre o modelo capitalista regido pelos EUA - aplicado no sistema de consumo brasileiro; afinal, os meios de entretenimento (e arte) em massa que aprecio em sua maioria são de origem externa, assim como seus produtos. Um exemplo de dominação ou influência cultural pelo corporativismo? Algo a se pensar...
Mas nem tudo é maléfico; hoje, podemos nos divertir e acrescentar informações pertinentes à alma por uma única fonte. Se há algum mérito espiritual na indústrias de entretenimento, é a capacidade de contar histórias e criar ícones com embasamento mitológico - o tema central deste post. Uma parte de nosso consciente precisa ser saciada com tais elementos, pois vivemos rotinas tranquilas, com liberdade regrada. As fantasias e instintos não tem vazão, pois a sobrevivência no sistema vem em primeiro lugar. Não vivemos numa época em que lutar para viver é a única opção. Não participamos de guerras, mas as assistimos pela TV. Porém a herança cultural persiste em nossa consciência; por isso consumimos bens imateriais (livros de ficção, filmes, jogos de videogame e é claro, HQ's). É uma forma de adoração, pois nos religamos com sua simbologia, adquirindo-os. E através deles conhecemos nossos mundos imaginários, vivemos nossas aventuras. SONHAMOS.
Daí a importância de analisar os super-heróis por essa perspectiva. Gerações passam, mas os ícones se fortalecem porque a mitologia sobrevive ao teste do tempo. As HQ's constituem a mídia responsável por nutrir estes ícones da mesma maneira, fator que a consagrou como a nona arte. Nada mal para uma revista acessível em qualquer banca de jornal.
Para aumentar a reflexão no assunto, segue abaixo um texto traduzido (e resumido) sobre como atos baseados na bondade podem aumentar a vontade e força física. O estudo foi realizado por Kurt Gray, estudante de psicologia com doutorado na Universidade de Harvard, em Cambridge:
- Os resultados, baseados em três experimentos, mostram que aqueles que fazem boas ações, ou se imaginaram agindo caridosamente, conseguiram erguer um peso ou ao menos segurá-lo com a mão por mais tempo do que aqueles que não agiam ou pensavam da mesma maneira. Porém atitudes más pareceram conferir superpoderes similares e até maiores.
Levantamento de Peso:Kurt Gray diz que: "Quando você pensa em super-heróis ou supervilões, você pensa em pessoas que tem uma quantidade enorme de força de vontade e são relativamente resistentes à dor. E por causa de seus estereótipos de heróis e vilões, você meio que personifica isso ou se transforma na sua percepção de herói ou vilão", ao realizar atos bons ou maus.
Num experimento, 91 voluntários tiveram que segurar um peso de 2.3 quilos por mais tempo que pudessem, e receberiam $1,00 dólar pelo esforço. Para metade deles, foi perguntado se eles gostariam de doar seu dólar para a UNICEF. Todos neste grupo concordaram, enquanto os do outro, é claro, não doaram. A todos participantes foi pedido para que segurassem o peso uma segunda vez. Aqueles que doaram seu dinheiro para a caridade, conseguiram segurá-lo por uma média de 53 segundos, sete segundos a mais do que os outros que não doaram. Num segundo experimento com 151 voluntários, os participantes seguraram o peso enquanto escreviam uma história de ficção sobre si mesmos ajudando, maltratando ou apenas interagindo com outra pessoa.